DOBRAS
Todos os títulos são escolhas. Encontrá-los é levar em consideração tantos outros que são deixados pelo caminho. Caso revisitássemos estes, talvez nos surpreendêssemos com a quantidade de palavras não trazidas para o texto de curadoria. Ainda assim elas estariam lá; presentes, mas camufladas. Seja no espaçamento entre um trabalho e outro, seja na relação entre as obras e o espaço expositivo. No entanto, aqui, o título não pretende apenas enunciar uma escolha em detrimento de outras. Ele nasce de tudo aquilo que ainda não é, mas que virá a ser.
Dobras reúne uma fabulação em torno dos cosmos criados coletivamente por oito artistas. Estamos a olhar, não para os duros vértices encontrados por quem dobra uma folha, na tentativa de reduzi-la, mas para uma curvatura definida por fortes pressões sobre as rochas que as prolongam. Portanto, é possível perceber tais dobras como possibilidades de projetar esquinas, como a transformação da plenitude de algo a partir do encontro entre planos.
As circunferências, tão presentes nas obras, parecem flanar pelo interplanetário numa tentativa de mirar outras realidades e projetar o olhar para outros horizontes, mas conscientes de suas equidistâncias. Através da diversidade de memórias dentro de um corpo que busca esotérica e obsessivamente uma reconexão com a Terra, concebe-se uma realização que fratura o pensamento linear para alcançar a força do compartilhamento de tudo o que estava a camuflar-se para ser descoberto quando, dobrados, Céu e Terra tornam-se uma coisa só.
Composta por variadas aproximações que não se restringem ao projeto expositivo como um todo, a exposição propõe um exercício de deixar-se perder entre universos ainda não descobertos e, dobrando esta superfície, deixar que apareçam os vincos a transformá-la. São os vincos o resultado de tantas dobras, muitas são as esquinas por onde esses universos se encontram. Os próprios trabalhos vão construindo as possibilidades de caminhos a serem percorridos e um vinco nos leva para muitos lugares. Nos é dado um quase-mapa para que possamos completá-lo com nossas experiências extraterrenas de nos tornarmos viajantes entre pêndulos misteriosos – que poderiam vir a ser ferramentas para os novos universos – e a invenção de topografias para os novos tempos.
Danniel Tostes
Gisele Andrade
Nathália Cipriano
Paula Peregrina
Rachel Balassiano
Rafael Amorim
Rayssa Veríssimo
Renato Menezes
Roberta Ristow
DOBRAS
Paço Imperial, Rio de Janeiro
18 de Dezembro de 2021